Tirando o atraso
Rodrigo Cesar
Em se tratando de continuidade do projeto partidário, o PT tem apresentado enormes debilidades.
Uma das dimensões da organização do setor juvenil de uma organização política é justamente a de garantir uma transição de gerações capaz de levar adiante seu projeto. Somente a partir da organização e realização do I Congresso da Juventude do PT, o conjunto do partido passou a debater com seriedade a organização de sua juventude, ainda que timidamente.
Não é por acaso que o tema nunca prevaleceu na pauta de discussão do PT, seja para organizar suas fileiras de jovens, seja para apresentar à juventude brasileira um programa que atendesse às suas necessidades específicas.
A razão central para que esta lacuna nunca fosse preenchida reside na falta de reconhecimento – ainda que pudesse existir certa percepção – da juventude como segmento específico, uma parcela populacional realmente existente, como algo concreto. Sendo assim, o PT, ainda que de modo não deliberado, assumia uma interpretação de que era inexistente uma condição juvenil universal que abrangesse todo um contingente – dentro e fora do partido. Prevalecia, portanto, a noção de que “juventude é apenas uma palavra”, não reconhecendo que mesmo submetidos a uma única condição juvenil existe recorte de classe entre os jovens.
Este problema conceitual foi determinante para estabelecer o atual patamar organizativo dos jovens petistas. Sua origem tem profundos pontos de contato com a noção equivocada de juventude como um período de moratória social. Nela, a juventude seria o momento da vida, situado entre a infância e a fase adulta, caracterizado pela suspensão das características que classificariam uma criança ao mesmo tempo em que não lhe atribui o conjunto de responsabilidades que classificaria um adulto.
No entanto, é a própria existência de um recorte de classes que nos possibilita refutar a noção de juventude como um período de suspensão, uma vez que não é possível para as classes de trabalhadores assalariados e pequenos proprietários (rurais ou urbanos) custearem este período da vida que se estabeleceu como convencional para determinar o significado de “viver a juventude”.
Por negar as especificidades dos jovens e adotar a noção de juventude como uma fase de suspensão – permanente preparação para o futuro – no PT nunca foi possível tratar do tema da forma como era necessário. A juventude permaneceu não reconhecida e dispersa na estrutura organizativa do partido e nos movimentos sociais em que o PT exerce influência ao longo de toda sua trajetória de 28 anos.
Somente a partir dos impactos do neoliberalismo sobre a juventude, manifestados, sobretudo, sob os aspectos objetivos da produção e reprodução social destes jovens, o tema passou a ser encarado com maior seriedade pela sociedade brasileira. As conseqüências destes impactos são visíveis tanto nas condições de vida da maior parcela desta juventude, caracterizadas por uma forte exclusão social, assim como no surgimento de um número expressivo de movimentos juvenis e de expressões jovens nos movimentos sociais já organizados. Até mesmo a pauta destes movimentos e organizações – e não somente sua organização interna – sofreu um recorte próprio para atender às demandas da juventude.
É dentro deste escopo de configuração social que o PT foi enquadrado. Sendo mais enfático, o PT não iniciou a discussão sobre o tema juventude a partir de iniciativa própria, foi levado a fazê-lo por necessidade. Como conseqüência disso, encontra-se extremamente atrasado no que se refere à construção de pautas específicas para os jovens e na organização interna deste segmento.
A última gestão da Secretaria Nacional da JPT e a realização do I ConJPT serviu como um acelerador: nos possibilitou tirar um pouco deste atraso e abastecer nosso tanque para a longa jornada que nos espera.
* Rodrigo Cesar é membro da Direção Nacional da JPT
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