No pleito de 2012 o deputado estadual Fernando Mineiro (PT) quebrará o ciclo de quatro campanhas em que o PT colocou como candidata a prefeita de Natal a deputada federal Fátima Bezerra. Mineiro assume a candidatura própria e aposta em discussões com as comunidades para reverter os números, já que as pesquisas recentes realizadas mostram um desempenho muito tímido dele.
As alianças com o PSB, da ex-governadora Wilma de Faria, e com o PDT, do ex-prefeito Carlos Eduardo, não são descartadas, desde que as legendas apoiem o candidato do PT a prefeito de Natal. Fernando Mineiro defende a tese de muitas candidaturas no primeiro turno para uma união no segundo turno. Mas será que o fato de ter sido líder do Governo Iberê Ferreira, hoje alvo de tantas denúncias, não poderão refletir no desempenho do petista nas urnas? O deputado responde que não, e logo argumenta: "não há nada que eu tenha defendido no Governo Iberê ou no Governo Wilma que eu me envergonhe de ter defendido. E defenderei com a maior tranquilidade. Tenho responsabilidade gerencial do Executivo e as defesas que fiz aqui (na Assembleia) a fariam".
Fernando Mineiro se mostra convicto da candidatura e afirma que, nesse momento, não está discutindo alianças, mas elaborando o projeto que mostrará a população no próximo ano. Sobre candidatura ao pleito 2012, alianças e estratégias, Fernando Mineiro concedeu a seguinte entrevista para TRIBUNA DO NORTE:
Por que o senhor deseja ser candidato a prefeito de Natal?
Porque eu tenho certeza que poderei coordenar um conjunto de forças políticas e sociais no sentido de recuperar a capacidade administrativa de Natal, no sentido de compor uma série de políticas públicas, no sentido de mudar o rumo da política administrativa dessa cidade. Eu tenho certeza que estarei preparado para essa tarefa e o Partido dos Trabalhadores merece a oportunidade de administrar a cidade de Natal. Ela já foi administrada por diversos agrupamentos políticos e a cidade deve dar uma chance ao PT e a cidade não se arrependerá. Se a gente colocar na balança os erros e acertos do PT nas suas administrações, o PT tem muito mais acertos e tem entrado com políticas inovadoras, da gestão pública, da gestão da cidade, inovações importantes que avançam no sentido de inclusão, de cidadania. Acho que Natal deveria dar uma chance ao Partido dos Trabalhadores para provar que é capaz de administrar uma cidade como essa.
O seu nome chega como candidato a prefeito de Natal depois da deputada federal Fátima Bezerra ter tentado chegar por quatro vezes ao cargo que hoje o senhor almeja. Isso é bom ou é ruim chegar para quebrar essas sucessivas candidaturas de Fátima Bezerra?
Quem perdeu com a não eleição da deputada Fátima foi a cidade. Não é uma questão personalíssima da administração, a sociedade natalense que perdeu com a derrota da deputada Fátima Bezerra, com a derrota do PT. Acho que é um outro momento. Temos personalidades (ele e Fátima Bezerra) diferentes, uma característica de trabalhar diferente. Acho que é indiferente, não tem reflexo na possibilidade da minha candidatura ano que vem com as quatro derrotas da deputada Fátima Bezerra. Acho que são coisas diferentes. O que contribui é o fato de eu ter passado por várias experiências, nas outras campanhas da Fátima Bezerra assumi papel de coordenador. Então acho que a gente pode aprender muito e a partir daí avançar bastante.
O PT parte para a disputa distante do PSB, com o qual foi aliado na campanha passada. O fato de partidos como PDT (Carlos Eduardo) e PSB (Wilma de Faria) terem candidaturas postas para a Prefeitura do Natal lhe enfraquece de alguma forma?
Até o ano que vem todos os partidos apresentarão suas sugestões para administrar, seus nomes, seus nomes. Mais do que nomes o que estarão em jogo são propostas para a cidade. O arco de aliança citado por você foi esse arco em 2008. Não há enfraquecimento até porque eu acho que o DEM, PSDB, o PMDB irão entrar na disputa. Isso é muito bom porque teremos muitos candidatos e não aquela campanha polarizada do bem contra o mal, aquela falsa polarização da campanha. A polarização sem a discussão mais séria do projeto é artificial. As candidaturas são todas legítimas.
Então o PT não irá se compor com Carlos Eduardo e nem com Wilma de Faria?
Nós vamos procurar alianças, vamos procurar os parceiros para compor aliança. Se não for possível fazer aliança no primeiro turno faremos no segundo turno. O cenário mais provável é cada partido apresentar sua candidatura. Isso é o mais provável. Mas essa definição das alianças, da composição se dará no ano que vem. Esse ano todos estamos trabalhando para se posicionar no cenário político. Se tiver uma aliança será uma aliança constituída, sem artificialismo, com o debate político das ideias e dos projetos políticos para a cidade.
Nesse cenário traçado pelo senhor, de cada partido lançando seu candidato, qual seria o provável aliado político do PT?
Os partidos que dão sustentação ao Governo Federal estão nesse arco de aliança, então se fosse para classificar seriam os naturais.
Mas os partidos que o senhor aponta como naturais para uma aliança também são apontados como prováveis apoios pela ex-governadora Wilma de Faria, que deverá disputar a Prefeitura pelo PSB. Quem vencerá essa disputa de aliados, o PT ou o PSB?
Isso é da política. O PT tem como natural aliado os partidos que compõem o Governo Dilma Rousseff. Isso é natural.
Nessas conversas políticas que o senhor está fazendo, há chances do PSB e PT estarem juntos em 2012?
Sim e não. Vai depender do debate. A discussão sobre qual é o cenário de aliança para o ano que vem não é uma prioridade nossa. Nem de nós e nem de nenhum partido. As definições de alianças acontecerão no ano que vem. Todos nós estamos buscando nos posicionar, construindo nossa candidatura. Pode ser que venha a acontecer (aliança com o PSB), pode ser que não. Estamos trabalhando para ter candidatura própria e pode ser que os demais partidos não efetivem sua construção conosco.
Então para fazer aliança com o PT, o PSB teria que renunciar a candidatura a prefeita?
A forma é construir candidatura forte o suficiente para atrair os demais parceiros antes do processo eleitoral. Se isso não acontecer é uma aliança que vai se dar com quem passar para o segundo turno. Mas repito não é preocupação nossa se vai ter aliança agora.
Quem poderia compor o grupo de aliados do PT para o pleito de 2012 em Natal?
Vamos construir uma candidatura. Nosso processo de candidato a prefeito de Natal está em construção. A priori não teria nenhum nome para contar ou que não vou contar. Nossa energia está focada em pensar a cidade, conhecer mais a cidade, discutir a cidade, aprofundar, ouvir. Tenho me dedicado muito a escutar, escutado muitas pessoas. Hoje (quarta-feira) pela manhã conversei com dirigentes do Movimento de Moradia de Natal. Temos conversado também com empresários da construção civil, da universidade, de bairros, estamos com quatro plenárias nas zonas de Natal que irão se realizar nos bairros de Natal de agosto até setembro. Temos escutado, vamos elaborar projetos, vamos apresentar um projeto consistente para cidade. E isso não vai sair da cabeça de um iluminado. Essa discussão e o debate será feito. Quem vai se aliar, com quem vai se aliar, isso é secundário não só para mim, mas para todos os candidatos. A definição só será no próximo ano.
A candidatura própria já está decidida pelo PT?
A candidatura própria já está decidida no PT. O partido decidiu que terá candidatura própria desde o ano passado. Tenho dito que encaro a candidatura própria não com obsessão, como algo que tem que acontecer. É um processo de construção, estou fazendo isso e tenho tido boas respostas das pessoas com as quais tenho conversado. Eu quero ter a capacidade de despertar nas pessoas a visão de que é possível implantar outra administração na cidade. Uma administração que pense política com eficiência, sem demagogia. Não esperem de mim nenhuma varinha de condão, nenhuma proposta mágica para cidade. Eu quero animar as pessoas. Animar vem de ânimo, ânimo vem de alma. Vou mostrar como é possível ter uma administração diferenciada. Não essa mesmice, essa tragédia que estamos vendo na cidade.
As pesquisas mostram que o senhor está em situação muito desfavorável para o pleito de 2012. Isso lhe desanima?
Nada. Aliás se eu estivesse desanimado com situações que são colocadas de imediato eu não faria política. A gente nem teria fundado o PT. Nada me desanima. Quando a gente começou o PT chamavam de maluquice, hoje estamos aí. Tenho dito que se a eleição fosse hoje seria muito difícil. Mas e eleição acontecerá no próximo ano. Estamos fazendo uma discussão. Engana-se quem achar que essas pesquisas significarão alguma coisa ano que vem. O cenário será totalmente outro no meu ponto de vista, inclusive em termos de candidatura. Muitos que estão sendo candidatos talvez não se viabilizem. Mas isso faz parte do cenário. Mas nada me desanima. A política não me desanima, ela me anima.
Como o senhor fará para mudar o cenário?
Já percebeu como nenhuma pesquisa divulga quem já está definido para o ano que vem. Já notou? 90% a 94% das pessoas não estão nem aí para a eleição do ano que vem. Eleição é um assunto que faz parte de nós que militamos na política e de vocês especialistas em política. A população está preocupada com o buraco, o posto de saúde, a sujeira, a educação que não funciona. Ela quer respostas dessas questões.
Em 2008 a candidatura de Fátima Bezerra focou muito no fato de ser do partido do presidente Lula. O senhor também fará essa dependência da sua candidatura com o fato de ser do partido da presidenta?
Eu tenho o maior orgulho de ser do PT, de ser parceiro da presidente Dilma, tenho orgulho do governo do Lula e do que a Dilma continua fazendo. Sou candidato para dizer que é possível sim, mudar realidades. Animar é isso. Animar é toda uma referência. Agora eleição é assunto a ser tratado com respostas a questões locais. A eleição de Natal como de qualquer cidade precisa ser lincado com as demandas da cidade.
O senhor foi o líder do governo Iberê Ferreira, que hoje é muito atacada na imprensa. Isso de alguma forma pode respingar no senhor e na sua candidatura?
Não. Em nada. Não há nada que eu tenha defendido no Governo Iberê ou no Governo Wilma que eu me envergonhe de ter defendido. E defenderei com a maior tranquilidade. Tenho responsabilidade gerencial do Executivo e as defesas que fiz aqui (na Assembleia) a fariam. Eu ando de cabeça erguida, não há nada que eu possa me envergonhar. Não tem implicação nenhuma. O assunto da discussão de Natal é de Natal, não é do Estado ou do Brasil. Assim como eu acho que o que ocorreu no país não terá interferência na eleição do Brasil.
Mas o senhor assumiu o papel de líder de um governo que hoje é alvo de muitas críticas e denúncias. O senhor se arrepende?
Tudo que eu defendi no Governo eu não me arrependo. Eu defendi a questão da suplementação orçamentária, defendi os empréstimos para obras de infraestrutura. Defendi as propostas relacionadas as liberações dos recursos. Todos os pontos que eu defendi com muita tranquilidade. Infelizmente a polarização impedia a agilidade na votação desses projetos. Não tenho nenhum tipo de arrependimento ou acho que fiz errado.
A prefeita de Natal, Micarla de Sousa tem destacado muito a aliança que fez com a presidenta Dilma Rousseff. O PT nacional poderá ter uma postura mais discreta por essa aliança com Dilma?
Não há qualquer relação nisso. A relação da presidente Dilma com Micarla é a mesma relação da presidente Dilma com a Rosalba. É a mesma relação da presidente Dilma com o prefeito de São Paulo. É ingenuidade achar que as relações republicanas terão peso na questão eleitoral. O PT nacional tirou como prioridade as campanhas nas maiores cidades e Natal está inclusa.
Onde a prefeita de Natal, Micarla de Sousa errou?
Ela faltou administrar. Micarla não administra a cidade. Ela vive de costas, criou um mundo própria e nós vivemos numa falência múltipla dos órgãos e serviços administrativos. Ela não administra a cidade e não consegue coordenar uma equipe. Ela não tem uma equipe. Ela não consegue responder as demandas, há uma incapacidade gerencial. Não é novidade para mim na época da eleição eu já dizia do grande risco que Natal corria com esse risco de aventura que empreendeu em 2008. Ela não tem comando, capacidade de gerenciamento. É um caos absoluto na cidade.
E o governo Rosalba? Qual a sua impressão nesses sete meses?
Eu não esperava que se desgastasse tão rapidamente. Não tem capacidade gerencial e administrativa. Me surpreendeu negativamente pela incapacidade de dar conta das respostas. Não acho que é questão de dizer que o Governo está perdido, acho que é um estilo de governo. Um estilo centralizador, autocrático, visão tacanha nas relações da política, não permite diálogo com a sociedade. O Governo ataca as entidades representativas. Não conheço um setor que mantenha diálogo. Administrar demanda capacidade de discutir, governo. Esse é um governo centrado em duas ou três pessoas, o secretariado apagado. Tem um primeiro secretário (o secretário Paulo de Tarso). A governadora vai aos eventos, faz as fotos, mas no tocar da máquina temos o primeiro ministro (o secretário estadual do Gabinete Civil Paulo de Tarso Fernandes).
Anna Ruth Dantas - repórter
Fonte: Tribuna do Norte
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