31/10/2008
Desafio é impedir bloco anti-PT de se alastrar pelo BrasilPor: José Dirceu*
Apurados os votos não foi dessa vez que a oposição venceu. Ao contrário, no balanço geral perdeu e feio. 72% dos eleitos são da base governista. O PMDB e o PT são os grandes vencedores - cada um elegeu seis prefeitos de capitais. Nas 26 onde houve eleição, 20 prefeitos eleitos ou reeleitos são da base governista.
Se somarmos o número de prefeitos do PMDB, cerca de 1.200, a maioria nas pequenas cidades, aos 559 do PT, a maior parte nas médias e grandes, veremos que os dois tiveram cerca de 50 milhões de votos. É fácil entender, portanto, porque é tão importante a aliança entre o PT e o PMDB. E porque o governador tucano José Serra fez questão de aliar-se ao PMDB do antes arquiinimigo Orestes Quércia em São Paulo, que indicou a vice-prefeita de Gilberto Kassab em troca do compromisso de ter a vaga de candidato ao Senado na coligação PSDB-DEM em 2010.
Não foi dessa vez que a oposição e grande parte da mídia levaram o país ao medo e a desesperança. Foram inúteis suas tentativas de envolver os eleitores num clima de pânico e pessimismo por causa da crise internacional e seus efeitos no Brasil. O eleitorado, não se deixou contaminar, votou e deu ao presidente Lula, a seu governo, ao PT e demais partidos de sua base um voto de confiança.
A mídia, que dirigiu a oposição e pautou seu discurso nas eleições, seja no Rio, seja em São Paulo, sem escrúpulos e numa violação aberta da legislação eleitoral tomou partido, apoiou candidatos, interferiu nos debates, pressionou a justiça, desconstituiu candidaturas, mas não levou. Não elegeu o deputado Fernando Gabeira, da coligação PV-PSDB no Rio, apesar da vitória de Gilberto Kassab, do ex-PFL-DEM-PSDB em São Paulo.
Infelizmente não temos só o problema do poder econômico ou do uso da máquina pública nas eleições. Cada vez mais fica evidente o papel da mídia e o uso e abuso de seu poder de monopólio a favor da direita e da oposição ao projeto político que o PT e Lula encarnam. Essa verdade que não dá para esconder. Chegou a hora não só da reforma política para combater o caixa 2 e o uso da máquina, mas também o abuso do monopólio da mídia e sua interferência nas eleições a favor de candidaturas e propostas políticas.
Em São Paulo, no Rio, e de certa forma no Rio Grande do Sul e no Paraná a direita conservadora, com apoio da mídia construiu um bloco social e uma coalizão política contra Lula e seu governo, contra o PT e seus aliados, apoiada num discurso falsamente moralista de resgate da velha UDN, e no antipetismo. Dividiu o eleitorado em termos de renda, escolaridade, idade, região e moradia, procurando nos isolar das camadas médias da sociedade e penetrar no eleitorado popular, apoiada na máquina dos governos e no apoio da mídia ou da propaganda eleitoral.
Esse é o maior desafio que temos pela frente: impedir que essa tendência se expanda para o Brasil e, ao mesmo tempo, reconquistar os setores da nova classe média altamente favorecidos pelo governo Lula, que abraçaram um discurso preconceituoso e antipetista.
A vitória de Serra e de seu candidato em São Paulo - atenuada pelo avanço do PT na Grande São Paulo e no interior - e a tentativa de eleger Gabeira, consolidam a aliança PSDB-DEM-PPS-PV para 2010, e fortalecem a candidatura Serra à presidência da República pelo PSDB. Mas ele ainda precisa derrotar o governador de Minas, Aécio Neves ou atraí-lo para uma vice-candidatura. Sem Minas, o Rio e o Nordeste - estados/região onde não tem votos - dificilmente Serra vencerá em 2010.
A definição de 2010, não se deu nessas eleições. Depende de como o governo e o PT vão equacionar a crise. E a coligação para 2010 depende de como vamos enfrentar essa santa aliança da mídia com a oposição, de nossa capacidade de renovar e reformar o PT e sua política, e de construir um programa e uma coalizão que representem para o povo uma continuidade, sem Lula, do projeto político de desenvolvimento que ele retomou e representa referendado pelo povo em 2006 e agora em 2008.
(*) José Dirceu é ex-ministro-chefe da Casa Civil
Artigo publicado no Jornal do Brasil em 30/10/2008.
Comentários
Wilson Cotrim
01 novembro 2008
Muito oportuno o artigo de Zé Dirceu. De fato, não podemos imaginar que a grande mídia seja imparcial, mesmo porque representa o pensamento do poder econômico e não tem preocupação alguma com a melhoria do nível de vida da maioria dos brasileiros. É preciso urgentemente que se promova um debate a nível nacional sobre a chamada "liberdade de imprensa". Num mesmo fórum, as Entidades, as Associações, as Igrejas e os vários Organismos de defesa da pessoa humana devem ser chamados para um debate com repercussão nacional e internacional sobre o papel dos Meios de Comunicação e sua parcialidade, interferindo de modo manipulador na direção das políticas sempre em defesa do grande capital. É bom o governo repensar, inclusive, no fechamento da torneira da publicidade para a Mídia que atua pregando o terror nos Meios que são do povo, pois os mesmos são apenas concessões que podem ser retiradas, a qualquer momento, das mãos dos manipuladores por ordem do governo federal.
erton
01 novembro 2008
Avaliação de conjuntura exata.
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